29 janeiro 2008

kantada

Já lá vão cerca de sete ou oito anos desde que dei como terminado o meu trajecto escolar. Terminei o 12º ano e optei por não continuar a estudar. Se me arrependo? Não? Foi mais uma opção que levou a que minha vida tomasse o rumo que tomou e que eu me tornasse em quem sou hoje. Bem ou mal, foi o que foi e é o que é. Tive algumas disciplinas que me marcaram. Umas vezes pelos professores, outras pela disciplina em sim e outras vezes, ainda, por alguma matéria dessas disciplinas. Num caso, a Filosofia, houve uma matéria da qual gostei e com a qual, de alguma forma, me identifiquei: Kant e a sua perspectiva de moralidade. Por muito ténue que seja a minha noção de Kant, hoje em dia, o que é certo é que ficou alguma noção e hoje, mais do que em qualquer outra altura da minha vida, tenho pensado nessa noção ténue, que por aqui ainda se mantém.

Como referi no primeiro texto de 2008, sinto que, nalgumas situações, tenho agido, escrito e falado de maneira a ser politicamente correcto, receando a reprovação ou mesmo a rejeição dos que me rodeiam. Estou, basicamente, a agir condicionado pelo facto de não querer que os outros pensem mal de mim ou pelo medo de ser rejeitado. Este modo de agir, segundo Kant, não é moral. E eu concordo! Para eu ser moral, principalmente para comigo mesmo, devo agir de forma a dar primazia ao bem fazer, em detrimento do bem estar, pois, como também refere Kant, "as nossas inclinações, que devemos combater, podem dar-nos um prazer momentâneo, mas deixam, muitas vezes, um vazio ainda maior do que aquele que se julgou preencher".
É óbvio que eu, tal como a maioria dos Seres Humanos, tenho o desejo, o objectivo e até a necessidade de ser feliz, mas como Kant acredita, "não devemos subordinar o dever (restrição da vontade à condição duma legislação universal) à felicidade, pois estaremos dessa forma a transformar a atitude moral num cálculo interesseiro". Como Kant diz que "a moral é a ciência que nos ensina como devemos, não tornar-nos felizes, mas dignos de felicidade", na sua perspectiva, ao estar agir com objectivo de me sentir bem comigo próprio ou de ser feliz, eu não estou a ser moral, estou, como já referi, a agir condicionado pelo medo (medo de ser rejeitado) e pelo interesse (interesse em que gostem de mim). Estes actos condicionados desta forma, dão sempre merda, pois não estou a ser eu próprio e não consigo, obviamente, sentir-me bem comigo próprio (o tal vazio que Kant refere), pois no fundo, os meus actos não são puros ou, se quisermos, morais.
Kant afirma que estar bem e fazer bem são coisas distintas, atribuindo total importância ao fazer bem. Apesar disto, a busca da felicidade nunca é desconsiderada, não devendo, no entanto, esta, violar o dever ou colocar de parte a boa vontade que deverá existir nos nossos actos. Agirmos moralmente, tornar-nos-á dignos de felicidade e as nossas acções morais, transmitir-nos-ão um contentamento semelhante à felicidade.
Como é óbvio para mim, eu conseguir agir de acordo com a filosofia Kantiana duma forma constante, não me parece ser possível, mas é certo que é que me identifico com esta filosofia, pois considero questionável, do ponto de visto moral, agir-se de forma a agradar alguém, apenas para se atingir um objectivo! Seja ele qual for!
Como também considero óbvio, não me vejo a levar uma vida moral na sua totalidade e plenitude. Gostava, mas sou Humano! Cometo erros, julgo os outros, tenho pensamentos indecorosos, insulto pessoas, desejo mal e magoo outros Seres Humanos.

Quanto a este texto, qual a sua finalidade? Será ele moral? Terá ele algum objectivo? Será para me fazer sentir bem comigo mesmo? Será para, como te acontecido, as pessoas que o leiam gostem mais de mim? Será para uma pessoa em concreto? Acho que não! Será apenas porque, já há algum tempo queria escrever sobre Kant e é também porque ando numa fase, em que me questiono constantemente sobre os meus actos e sobre os verdadeiros objectivos desses actos. Por vezes penso que nem eu próprio tenho a noção real das razões de alguns dos meus actos...

Frase do dia: "Remember, you're unique! Jut like everybody else"

4 comentários:

Anónimo disse...

É um texto longo mas coerente.

Qdo temos um blog aberto, escrevemos para nós e porque temos vontade de darmo-nos. Não procuramos aprovação de ninguém. Bela

Ana disse...

Meu caro,
Este não podia deixar de comentar!
Também eu no 12º ano fui apaixonada pela filosofia e em especial por Kant... se bem me lembro esta questão da moral é a base da " Fundamentação da Metafísica dos Costumes".

Diz Kant que seremos tão mais virtuosos consoante a nossa capacidade de agir livre de inclinações, por inclinações entenda-se, o que bem explicaste, o agir em prol do que esperam de nós ou do que achamos que esperam!

No entanto pergunto eu, pq sempre me perguntei, não vai esta teoria Kantiana contra a Socrática de que " a minha liberdade acaba onde começa a do próximo" (sim, pq não posso agir livre de inclinações sem interferir na liberdade do próximo)? Assim, estará uma mais correcta que a outra? Onde se estabelece o ponto de equilibrio?

Entendo o que transmites neste texto, e faz todo o sentido,como posso ser feliz se o meu universo de atitudes girar em torno dos outros em vez do principal interessado EU!?, mas já que descubro em ti um aliado na filosofia, aproveito e estico-me um bocadinho...

Bjos!

ricardo teixeira disse...

BELA - No início, escrevia realmente assim e via-se no que escrevia e como o escrevia. Houve, no entanto alguns textos (não digo todos) em que me deixei influenciar por essa necessidade de aprovação. Notando isso, quesitonei-me acerca da utilidade deste espaço. Vou tentar mudar.

ANA - Pois, não sei se concordo contigo! Não acho que vá contra a Socrática (filosofia que está a cair em descrédito desde que temos o primeiro ministro que temos, hehehehehe), pois a acção de que Kant fala, penso eu, é precisamente uma acção que não interfira com a liberdade do próximo. Temos, até, que agir em prol dum bem superior ou geral e não dum bem único ou pessoal.

Quanto ao exemplo que referiste, quando falámos ao telefone, é já mais complexo. Acho, de qualquer maneira, que ao tentarmos agir livres de inclinações, poderá levar-nos a considerar outras hipóteses que não aquela que pensamos estar correcta, a não ser que tenhamos realmente a certeza de que a nossa é a correcta!

Que achas disto?

Esta lista de comentários, não sei porquê, mas algo me diz, vai sofrer alguns aumentos.

Ana disse...

Acho que passaste algum tempo a pensar numa resposta... e mais informo que nem vences nem convences!

No entanto, e porque não quero andar por aqui a massacrar ninguém com longas dissertações filosóficas, acho que esta nossa "discussão" deve continuar (sim, não julgues que me rendo) mas em lugar próprio e com os dois principais intervenientes (até convidava o Kant, mas acho que o tipo anda noutro mundo). Posto isto está lançado o desafio... sou menina para te dar mais que luta... marca a hora e o lugar... podes escolher as armas! LOLOL

Bjo