21 novembro 2007

invisível

Existem alturas em que queria ser invisível e existem alturas em que sou!

Apercebi-me ontem que apesar de estarmos todos cá, vivinhos e a mexer, temos alturas em que somos invisíveis.

Cheguei a casa e não havia nada para jantar ou sequer para cozinhar. Fui ao templo do consumismo: Colombo! Comprei uma sandes no Vitaminas e sentei-me numa daquelas imensas mesas que existem na zona de restauração, sozinho e invisível. Concentrei-me na sandes, no ecrã gigante que ali existe e nas pessoas que me rodeavam. Todas as pessoas, se mantinham envolvidas pelas companhia de com quem estavam ou, se sem companhia, pelos seus próprios pensamentos. Continuei a olhar à volta e vi alguém que pensei ser ainda mais invisível do que eu: uma Senhora, que me pareceu ser uma sem-abrigo. Digo pareceu pois, dadas as circunstâncias, é um pouco precipitado eu afirmar uma coisa dessas. Podia até não ser. Mas não deixava de ser invisível!

A Senhora estava sentada numa cadeira, a dormitar. No seu rosto, distinguíamos bondade e entre as muitas rugas que por ele se espalhavam, conseguíamos igualmente, distinguir as rugas criadas pela idade, das rugas criadas pela própria vida e pela sua adversidade. Vestia umas roupas pesadas, no peso e nas cores. As roupas eram velhas e algo sujas. Na cabeça tinha um boné preto e nos pés, uns ténis/botas cor-de-rosa, que davam o único laivo de cor e de alegria aquela imagem. Em cima da mesa, tinha uma pequena garrafa com água e um saco de papel, onde estaria um qualquer bolo ou salgado. A seu lado e tal como ela, descansava um saco de plástico. Pensei, seguindo o meu raciocínio de aquele ser invisível ser uma sem-abrigo, em como seria ser-se constantemente invisível. Muito mau, digo eu!

A realidade, é que em grande parte do tempo, os sem-abrigo, são seres invisíveis. Nós (não todos, como é óbvio), fazemos por torná-los invisíveis. Fingimos que não estão ali, pois a imagem dum sem-abrigo, vai destabilizar o nosso equilíbrio, já por si desequilibrado. Cada vez menos, queremos ver o nosso, por vezes pouco, bem estar, invadido pelo mal estar de outros, que não conhecemos. Por isso, a reacção normal à presença dum sem-abrigo, é indiferença, atribuindo-lhes assim a tal invisibilidade que tantas vezes desejamos para nós próprios. Quando nos vêm pedir uma esmola, nós respondemos-lhes com um não, sem sequer olharmos para as pessoas que ali estão. Lá está! Respondemos, como se estivéssemos a responder para o ar ou para um ser invisível.

Mas tudo isto não passam de palavras, ideias, pre-concepções, opiniões e as opiniões, já sabemos, são como os cús: cada pessoa tem o seu. A Senhora até podia não ser uma sem-abrigo ou até podia ser e viver satisfeita com a sua vida! Não sei. O que é que eu sei afinal? Nada!

Música:
Nelly Furtado – All Good Things (Come To An End)
Foi a música com que o Tico e o Teco me presentearam no Sábado. Foi dia de sentimentalismo.
Ainda não consegui perceber qual deles é o sentimentalista e qual deles é o “agitado”!
Tinha o objectivo de conseguir colocar as músicas com que acordava, no próprio dia, mas para isso era necessário que eu escrevesse aqui com regularidade, o que não está a acontecer. É que na Segunda, já acordei com uma música mais agitada, por isso já estou atrasado uma música!

1 comentário:

ap disse...

Eu adoro observar. Acho q as pessoas revelam-se muito. N sei se a senhora seria uma s/ abrigo ou não, mas um dia dp escreveste sobre ela. Para ti ela n foi invisivel :)

Obrigada pelos teus comentários. Agrada-me a forma como tu escreves, muito simples e descomplexado. Vou continuar a passar cá :D